quinta-feira, 3 de maio de 2012

Crise do real em 1999

Referente a discussão em sala de aula sobre o contexto em que a obra de Mankiw (Princípios de introdução à economia) foi escrita resolvemos analisa-lá perante o contexto econômico no qual o Brasil encontrava-se. Um dos principais fatos no lançamento da primeira edição brasileira, entre 1997 e 1999, encontramos a crise da desvalorização do real perante o dólar, referente a isso temos abaixo uma matéria publicada em 20/01/1999 pela revista Veja que refere-se ao contexto da crise e suas consequências.


O Brasil piscou

Em atraso com as reformas e pego pela síndrome Itamar, o
governo perde credibilidade rapidamente e libera o câmbio
Eurípedes Alcântara
Uma sensação de alívio foi o primeiro impacto da decisão do governo de deixar a cotação do real flutuar na sexta-feira passada. O fim do suspense criado pela dúvida a respeito da capacidade do governo brasileiro para defender a moeda gerou euforia contagiante. Explica-se. Afinal o país torrou cerca de 40 bilhões de dólares nos últimos seis meses tentando aplacar a fome de moeda forte dos especuladores. Tudo resolvido, portanto? Infelizmente não. Os analistas que se dedicavam a entender que país emergirá da farra cambial da sexta-feira passada acham que, como em todo surto eufórico, este esconde mais do que revela sobre o futuro imediato da economia brasileira. "No primeiro dia da moratória da Rússia também houve um ânimo comprista nas bolsas e no mercado de títulos com base na idéia de que o país estava em liquidação", observa o economista Edmar Bacha, diretor do escritório do banco BBA em Nova York. Bacha acredita que o mercado deu um inequívoco sinal positivo ao Brasil depois da desvalorização mas continuará implacável na cobrança de reformas capazes de tornar o país governável financeiramente. "O governo deu seu lance, que foi bem-aceito. Todo o foco do mercado agora está centrado no Congresso", diz Bacha. "Um vacilo e tudo se desarranja na mesma velocidade."



Há poucas dúvidas de que a euforia inicial possa azedar caso o Brasil não consiga aprovar as reformas no Congresso
O Brasil continua enredado numa das piores crises de sua História. Gasta quase tudo que arrecada para pagar funcionários e juros de uma dívida que caminha para chegar a 400 bilhões de dólares. Se não enxugar seus déficits será um país inviável. O problema tem ramificações sociais e políticas graves cuja resolução desafia os governantes há décadas. O próprio desfecho da questão cambial da semana passada é um reflexo dessa situação-limite. A deterioração que culminou com a desvalorização do real nasceu das dúvidas do mercado quanto a capacidade de pagamento do país depois do calote de Itamar Franco. "A situação continua instável. O gesto insano de Itamar gerou reações depressivas exageradas no mercado. A desvalorização do real está criando o oposto, a euforia simplista segundo a qual todos os problemas se resolvem com um golpe de câmbio", afirma o ex-ministro Mailson da Nóbrega.



O fato de um governador desvairado ter o mesmo peso desestabilizador no mundo da crise asiática ou da moratória russa é um sinal dos tempos. Ele mostra que a volatilidade chegou para ficar nos mercados financeiros mundiais. Eles criaram entre si uma dependência quase biológica. É quase impossível aos países esconder suas vulnerabilidades. No Brasil essa noção nunca se firmou. Os políticos e dirigentes sempre se sentiram acima de tudo e de todos. Por isso, questões vitais para a saúde financeira do país, como a reforma da Previdência e a criação de mecanismos de cobrança mais igualitários de impostos, nunca saíram do reino das intenções e das promessas. O governo precisa aproveitar a forte reação positiva à mudança cambial para fortalecer-se e apressar a aprovação do ajuste fiscal e da reforma da Previdência. "A reação inicial abriu uma janela para o governo engatar algo mais concreto", diz Mailson da Nóbrega. Enquanto gastar mais do que arrecada, o Brasil será um país vulnerável seja qual for sua política cambial. Há poucas dúvidas de que a euforia inicial possa rapidamente azedar caso o Brasil não consiga passar os ajustes no Congresso e com eles obter um efetivo apoio externo.



Responsável quase solitário pela manobra que culminou com a revolução no câmbio, o presidente Fernando Henrique Cardoso andava abatido na semana passada. Reafirmou os compromissos de seu governo com a estabilidade e o pagamento das dívidas do país, mas não parecia contagiado pela euforia dos mercados. O presidente ganhou mais tempo para manobrar, porém perdeu a equipe econômica unida que o acompanhava desde o lançamento do Plano Real. Na última semana, fazendo a mudança cambial num momento delicado de crise por falta de alternativa, o Banco Central errou brutalmente na avaliação do impacto de suas medidas iniciais sobre o mercado, mesmo dispondo das experiências dramáticas do México, da Tailândia, da Indonésia, da Coréia do Sul e da Rússia. Criou-se na quarta-feira um sistema de flutuação do real contida em margens que foi pulverizado em poucas horas pelo mercado. Só então, dois dias depois, o BC adotou a flutuação livre do câmbio. A mudança cambial foi decidida pelo presidente da República municiado de informações vindas de fora do círculo da equipe econômica. No final da semana, ainda era muito cedo para detectar sinais dos mais temidos males que costumam acompanhar desvalorizações cambiais feitas por países parecidos com o Brasil — mais recessão e mais inflação. A combinação é de dar arrepios.


Foto: Ana Araujo/infrografico:A. Caires

Nenhum comentário:

Postar um comentário